Pensamentos · agosto 21, 2021

INSÍGNIA

Andy, 21 anos, magro como nunca esteve, seu alimento não é a carne, louvável, isso de deter-se a força que tem sobre o mais fraco. Não tem barba, seu corpo em cicatrizes que escolheu ter. Seu celular toca o tempo inteiro, mensagens e ligações, às vezes atende, vozes roucas de ambos os lados, odeia telefone, mas parece gostar das vozes que ultrapassa a linha. Mensagens, não as responde, mas sorri mudo, quando as recebe. 

Durante a semana trabalha como um louco, na madrugada se faz armário para livros, aos finais de semana moradia ao álcool, dorme pouco, mas quando dorme sonha tudo. Andy senta-se em seu sofá, pouco confortável, sempre que chega de qualquer lugar, liga o rádio e logo vem seu gato, “nego”, à lhe propor caricias, ele deita, ambos fecham os olhos. 

O ranger da porta, um entra e sai desenfreado, uma música alta do lado de fora, o jazz dentro da alma espalmada em pranto, Andy, acorda atrasado e começa a cada dia a mesmice que foi proposta em outros. Quando ele não esta preocupado em tentar, ele consegue. O reencontro em si começa quando encontra um bolo de cenoura a espera, ele usa pessoas até que consiga arrancar dela um bendito bolo de cenoura, ele quer provar a melhor calda até que enjoe e busque por outra. 

Na rua, Andy sorri, é solicito, diferente do seu mal humor matinal, gosta de conversar com pessoas desconhecidas, não  quer saber nomes, delas quer apenas roubar palavras, seu  sonho era ter nascido livro. Compõe-se diariamente em palavras soltas, como acha que nunca conseguirá ser livro, propõe a si todos os dias ser ao menos uma poesia para alguém, mesmo que seja triste, quer ser palavra, vírgula e verbo conjugado, singular ele se faz apenas quando esta sós contigo, não aprendeu a escrever ao próximo ou para o que tem, fantasia realidades e mais uma vez se faz em sonho. 

Sua casa é qualquer lugar, um pedaço de chão desenhado com bloco de construção, a praça que mora ao lado de qualquer lugar, a mesa do boteco, ele para, analisa, mal analisa e mora. Fica em qualquer lugar por dias, horas e tudo se faz cômodo para alguém que a principio só sorri. 

Tudo se transforma em um inferno quando tomam conta de seus espaços, sufocado, busca ar em uma janela que dá para um muro, ele quer morrer, ele tenta amar, odeia não ter o controle, lembra dos dias em que dentes o perfuram a pele e se sente impotente por não querer reagir. Existem pessoas que ele desejar machucar, quer ver a dor, este é seu prazer do momento, existem outras que fogem, essas são as que ele tinha intenção de proteger, não consegue, se coroe, mas sabe esperar o tempo que a lua cheia vai voltar. 

Incertezas vasculham seus vazios, gosta de andar com a liberdade de um gato, pula os muros mais altos, é traiçoeiro a si mesmo, cai em armadilhas que fez para os ratos, se machuca e lembra; “-ainda tenho mais sete vidas por aqui”. Suas vidas são multiplicadas, sua insígnia se deve à isso, é capaz de se safar.